escritas e falares da nossa língua


quarta-feira, fevereiro 29, 2012

é uma ida de Deus...


esta expressão, "é uma ida de Deus...", ouvi-a de uma doente na consulta externa, querendo significar que a distância de sua casa ao hospital era demasiado longa. significa, pois, "é muito longe", "é muito distante".

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

ver juristas discutindo ortografia...

ver juristas a discutir Acordos Ortográficos...que mais irá acontecer?...será que a norma de 1911, adotada unilateralmente por Portugal, não terá por aí algum viciozinho jurídico que se possa aproveitar? a norma de Camões tem de certeza: é o vício da caducidade do efeito...


por mim, tenho-me esquecido sistematicamente de apreciar a questão do ponto de vista psiquiátrico. mea culpa…
mas, pronto, cá vai. mais vale tarde que nunca.


aceitei o meu próprio repto de analisar a questão do Acordo Ortográfico do ponto de vista da psiquiatria, sobretudo e agora a questão de se ser contra o dito Acordo. há, basicamente, cinco a seis grandes quadros que podem justificar uma tal posição, sendo certo que ninguém até agora argumentou nada que jeito tenha para se ser contra. os primeiros dois quadros clínicos caraterizam-se pela incapacidade de compreender a questão, o seu âmbito e o seu alcance. e aí entram os casos de debilidade mental congénita, de vários graus, e de demência moderada a grave. o terceiro quadro clínico diz respeito a uma intolerância perante a autoridade, no caso as Academias e o poder político. e aqui pontuam os casos de grave distúrbio da personalidade, disfarçada sob o manto das palavras "teimosia" e "obstinação". ainda dentro das personalidades desviantes, podemos considerar os dubitativos, inseguros, incapazes de decidir, sempre com um pé lá e outro cá, mas que, pelo sim pelo não, ficam no contra. o quarto quadro clínico diz respeito às fases maníacas da perturbação bipolar, durante as quais a pessoa se julga a maior, a mais sábia e a única que tem razão. e quando a mania é crónica não sai dessa postura perante o mundo e as coisas. é o único que sabe, e pronto. logo, são todos burros, dos académicos aos políticos, menos a pessoa doente, claro. e temos o quinto e sexto quadros, aqueles que mais preocupam e baralham os terapeutas. trata-se daqueles distúrbios psiquiátricos caraterizados por uma inversão da ordem natural das causas e efeitos, uma visão ptolomaica do universo, neste caso do universo da Língua, segundo a qual é o sol (o mundo) que deve girar à nossa volta e não nós (a terra) que devemos girar à volta do sol. assim sendo, segundo esta visão, tem de haver algo no mundo, neste ou qualquer outro, que tem por único lema e função fazer-nos mal, prejudicar-nos e até eliminar-nos. trata-se, já adivinharam, da visão paranoica, que pode ser irrepreensivelmente racional e aparentar uma total normalidade cognitiva (paranoia), ou, então, pejada de seres míticos, magias e conspirações, duendes, implantes de chips, extraterrestres e bruxas más (esquizofrenia).
uso apenas de um direito igual. se um jurista, bioquímico, economista, mecânico ou vendedor de pizzas acha que deve argumentar ortografia em função da sua formação profissional, por que não hei de eu achar que o posso fazer? a única diferença é o "parti pris": se eles partirem da posição de "contra" porque sim, partindo eu da posição oposta, concluirão eles sempre o contrário de mim.


PS: bom, é claro que uma abordagem psiquiátrica da questão tem um contra: pode ser contestada e rebatida por outro psiquiatra. mas o mesmo acontece com qualquer outra abordagem, seja ela linguística, ou jurídica, ou de qualquer outra sapiência.


sexta-feira, fevereiro 10, 2012

kwanza (Ang.)


"kwanza" (nom. com.) significa "o primeiro", "no início"; "os primeiros frutos", "as primícias"; unidade monetária de Angola.

falo português, não o seu, mas o nosso, de cá...

vejo na RTP um documentário sobre a chamada "Vila Portuguesa", de Malaca. a certa altura, um entrevistado desarma o entrevistador:
- eu falo Português, não o seu, mas o nosso, o de cá...


adorei. é que muita gente pensa que o único Português é o seu.

machamba (Moç.)


"machamba" (nom. com. fem.) significa "herdade", "propriedade agrícola"; "quinta", "horta", "sítio" (Br.)

kamba (Ang.)


"kamba" (nom. neutr.) significa "amigo (a)". do Quimbundo ou Kimbundu.

o real ou o kwanza?

ao Jornal de Angola deu-lhe para botar opinião sobre a nova ortografia da Língua portuguesa, insurgindo-se contra ela, com o argumento agora muito na berra - já que cairam todos os outros: o argumento de que se trata de um negócio, melhor de um negócio nojento. brilhante! mas, ó xente:
1º - o artigo surge no contexto de um coro das bruxas, mas é só por acaso, mais nada.
2º - embora o artigo fale no septuagenário do Restello, aposto que o decrépito senhor, coitado, não tem nada que ver com o artigo.
3º - fico informado que o Museu da Ortografia, vulgo CCB, só está autorizado a usar a antiquada ortografia até ao dealbar de 2014, o que não deixa de ser uma novidade boa e curiosa.
4º - fico a saber que em Angola existe uma aversão profunda a tudo o que seja negócio, nojento ou não, e que a maioria dos angolanos não faz negócio nenhum, porque são todos muito afetivos e assim.
5º - os casos excecionais em que Angola se vai apoderando do que de melhor existe em Portugal e faz negócios dos bons (petróleo, cobre, ferro, diamantes, e a compra do BPN por tuta e meia), esses não são nojentos, nem coisa parecida, e são feitos, certamente, com pessoas que seguem ou querem seguir a nova ortografia - já que aqueles que seguem a velha não fazem negócios.
6º - ele há gente que não se enxerga...

o mais curioso nesta estória do artigo do Jornal de Angola é que os angolanos usam e abusam do "k", do "w" e do "y", que agora estão consignados na nova ortografia, mas não na ortografia que o jornal diz defender. e isto, no mínimo, é cómico...
afinal de contas, quem é que quer mandar na nossa maneira de escrever: o Brasil ou Angola, o real ou o kwanza?


quinta-feira, fevereiro 09, 2012

kumbu (Ang.)


"kumbu" (nom. masc.) significa atualmente "dinheiro". é palavra oriunda do Quimbundo que, à letra, significa "vaidoso". deve ser o que parece ao angolano comum um angolano cheio de dinheiro.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

quem é o famoso especialista em Linguística?

tenho uma nova e surpreendente argumentação dos opositores à nova norma ortográfica, quando confrontados com a submissão do Acordo entre as Academias portuguesa e brasileira à votação na Assembleia da República, à aprovação em Conselho de Ministros e à promulgação pelo Presidente da República – sem dúvida um excesso de zelo democrático que não tem paralelo noutros lugares, como a Espanha e a Alemanha, só para dar estes dois exemplos.
pois esses mesmos, que não raramente falam em referendar a nova ortografia, como se o conjunto de todos os leigos fizesse um conselho de sábios, dizem agora que os deputados, ministros e presidentes das Republica não são especialistas em Linguística!
a verdade é que quem não quer aceitar uma coisa pelo seu verdadeiro e oculto motivo (xenofobia, isolacionismo, chauvinismo e antibrasileirismo primário), não a vai aceitar por argumento nenhum. mas a nova ortografia veio para ficar, quer eles queiram, quer não. a democracia é assim: as decisões democráticas aceitam-se, mesmo quando não estamos de acordo com elas. no meu caso, os exemplos em que não concordo com certas decisões democráticas são muitos, mas não vêm aqui ao caso e tenho que as aceitar.

PS: não sei muito bem o que é um especialista em Linguística. se é um académico da Academia das Ciências de Lisboa ou da Academia Brasileira de Letras, pois muito bem, é um especialista em Linguística; se por especialista em Linguística se quer dizer um professor de Português, o professor de Português não é um especialista em Linguística, é apenas um especialista no ensino da norma oficial. e é para isso que ele é pago. caso contrário comporta-se como o polícia que não aplica as leis, não multa nem prende ninguém, porque não concorda com elas. ou o instrutor de condução automóvel que ensina a andar ao contrário das regras de trânsito porque decide que não as aceita.