escritas e falares da nossa língua


terça-feira, setembro 30, 2008

cair em saco roto

a expressão "cair em saco roto" usa-se para dizer que algo que se faz ou diz não tem impacto, "entra por um lado e sai por outro".
exº. "todos os avisos caíram em saco roto".
pelo contrário, se "não cai em saco roto", quer dizer que fica retido, que não fica sem memória ou sem consequências.

no dia de São Nunca, à tarde


a expressão "no dia de S. Nunca, à tarde" indica que um determinado acontecimento ou desejo é previsivelmente impossível de realizar, ou não temos vontade que se realize.


exº: "casarei contigo no dia de São Nunca, à tarde"; "vamos agendar isso para o dia de São Nunca, à tarde".
expressão equivalente: "quando as galinhas tiverem dentes".

segunda-feira, setembro 29, 2008

ribanceira (Pt., Gz. e Br.)


"ribanceira" (subst. fem.) significa "escarpa", "margem do mar, de um rio ou de um lago, cortada a pique", "margem ou rampa íngreme, "precipício", "despenhadeiro".
ribanceira é uma coisa de onde muita cousa cai: ou caiam cousas de cima ou caiam coisas lá abaixo.




muita gente sonha com precipícios e ribanceiras. o que esses sonhos tenhem de bom é que a gente acorda meio metro antes de chegar ao fundo.

de primeira apanha

a expressão "de primeira apanha" significa "de primeira escolha", "de primeira qualidade", "de primeira água". muitas vezes é usada no sentido irónico para situações, qualidades ou estatutos pouco invejáveis. exº: "o Fernando é um preguiçoso de primeira apanha"; "o Luís é um mentiroso de primeira apanha".

domingo, setembro 28, 2008

puxar a brasa à sua sardinha




além de dar informações óbvias sobre a dieta popular, a expressão "puxar a brasa à sua sardinha" ou "chegar a brasa à sua sardinha" significa "tratar dos seus interesses", "aproveitar toda a ocasião ou ensejo para realizar os seus intentos", "ser egoísta".






e vejam aí esses versos:

"cada um tenta puxar a brasa à sua sardinha"

é antigo esse ditado,
que tem certo fundamento,
pra se fazer julgamento
do seu significado,
o qual tem sido aplicado
da forma que se alinha,
pois o homem se encaminha
para se locupletar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

cada um por si e Deus
por todos, outro ditado,
para ser analisado
por ilustres e plebeus,
evangélicos e ateus,
qualquer um que se sublinha,
essa citação eu tinha,
para um dia revelar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

é um gesto corriqueiro,
praticado em todo canto,
não é de causar espanto,
muitas vezes verdadeiro
em certos casos, primeiro,
quem se previne, adivinha,
cuida, protege e caminha
para o que lhe interessar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

tem aquele que apela
para Deus, o que deseja,
comparece a uma igreja,
a um santuário ou capela,
reza uma salve-rainha,
no altar, banco ou lapinha,
pra seu desejo alcançar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

para suas conveniências
às vezes uma criatura,
com arte e desenvoltura,
age para diligências
das diversas incumbências,
com as quais se apadrinha,
se afirma e se aninha,
sem aos outros se importar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

tem gente que negocia,
procurando convencer,
diz que vai desenvolver
um plano de primazia,
chama toda freguesia,
faz aquela ladainha,
mas nem bate a passarinha,
se o cliente se enrolar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

é normal num desafio
entre vates cantadores,
parecendo dois tenores,
cada um mostrando brio,
se declara ser bravio,
e aí efervesce a rinha,
no toque da violinha,
passa a se vangloriar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

Quem quer a sardinha assada,
procura puxar a brasa,
com jeito e não se atrasa,
para ter assegurada
sua parte desejada,
sem perder essa boquinha,
quem sabe, busca, caminha
para se realizar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

assa carne de pavão,
de porco, peba, tatu,
de bode, gado, peru,
codorniz, arribação,
milho, bolo, queijo, pão,
preá, batata, galinha,
peixe, filhós, batatinha,
tudo o que se pode assar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

tem muita gente egoísta,
só pensa em tirar proveito
para si de todo jeito,
não muda o ponto de vista,
achando ser uma conquista,
não passa de picuinha
essa atitude mesquinha,
que não é nada exemplar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

vê-se gente dar atenção
pra si mesmo e mais ninguém,
trata os outros com desdém,
passa a ser obsessão,
não ajuda a seu irmão,
nem até sua mãezinha,
achando bom a vidinha,
a ninguém quer ajudar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

tem pessoa impertinente,
intragável, presunçosa,
imbecil, reles, teimosa,
antipática, renitente,
tacanha, inconveniente,
só anda fora da linha,
com sua cara lisinha,
sem nada para agradar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

vê-se pessoa que quer
conseguir algo na marra,
insiste e não se desgarra
do seu ávido mister,
não mede e dê o que der,
sua conduta daninha
irrita, incomoda, espinha,
e só faz contrariar.
cada um tenta puxar
a brasa à sua sardinha
.

(José de Sousa Dantas, in Usina de Letras, Secção Literatura de Cordel)

bragal


por falar em "bragas", "bragal" era aquele pano ordinário, de linho grosso (tecido em tear de pau), de que eram feitas as bragas. por extensão, "a roupa branca de uma casa", "enxoval".

ir abaixo de braga

em boa verdade, "ir abaixo de Braga" é muito menos frequente do que "mandar abaixo de Braga", porque uma cousa é mandar e outra é ir.
talvez por isso se diz mais depressa "mandei-o abaixo de Braga" do que o imperativo "vai abaixo de Braga!"
ouço a expressão desde pequeno, sobretudo na própria cidade de Braga e seus arredores. o certo é que nunca ninguém me soube explicar a origem da expressão. mas tendo em conta o seu significado picaresco, é possível que tenha tido origem num trocadilho entre Braga e bragas, sendo que a palavra "bragas", que se mantém viva em Espanha, caíu em desuso por aqui. diga-se de passagem que o mais certo é que Braga e bragas tenham origem comum na tribo brácara, que, ao que consta, terá sido a fashion designer dessa peça de roupa. em versão um poucochinho démodée, obviamente.
seja como for, a expressão é muito mais compreensível se na origem tiver sido "ir abaixo de bragas". que é como quem diz "ir à merda". com vossa licença, claro.

paspalho

"paspalho" (adj.; subst.) significa "palhaço"; "pessoa inútil" (fig.), "atranquilho" (fig.); "parlapatão", "lorpa"; "parolo"; ""palerma";  "idiota"; paspalhão", "tudo e todo o que enreda, atranca ou confunde"; "janota" (fig.), "figurão" (fig.); também: "codorniz".
o mesmo que "paspalhetas" e "paspalheteiro" (Gz.).
relacionado com "paspalhada" ou "paspalhoada" (Gz.): o conjunto de penas, palhinhas, trapos e ervas que formam o ninho dos pássaros.



imagem: aqui

sábado, setembro 27, 2008

mal-entendido

o mal-entendido é um efeito secundário da comunicação. depende da relação entre quem comunica e da emoção e expectativas mútuas.
os mal-entendidos são particularmente sérios na comunicação amorosa e no discurso diplomático: um ligeiro desvio de código, uma interferência maldosa, uma desconfiança infundada, uma coincidência inoportuna, e zás! estala a confusom.

mas só pode haver mal-entendidos onde houver comunicação. e é isso que salva a maior parte dos mal-entendidos.

ter bichos carpinteiros

"ter bichos carpinteiros" é próprio das crianças rebuldeiras, traquinas, travessas, que não param quietas. é sinal de saúde e graça de Deus, mas incomoda bastante os adultos (mais os pais que os avós). tamém se diz "ter bichos carpinteiros no rabo".

a expressão deriva da azáfama daqueles bichinhos da madeira velha, que a vão comendo até aos ossos, deixando só a capa e o verniz. e fazem aquele reque-reque que atordoa as insónias de quem as tem.

equivalente: "ter o formiguilho no cu" (Gz.). contributo de LQB - ver Comentº.

vidrinho de cheiro

a expressão "vidrinho de cheiro" vem de os frasquinhos de perfume terem um aspeto delicado e serem habitualmente fáceis de quebrar. refere-se a alguém muito sensível, suscetível à crítica ou a observações que para outros são inofensivas. niquento.
equivalentes: "florzinha de estufa", "mariquinha pé de salsa".

levar a mal

a expressão "levar a mal" significa "ficar ofendido", "ficar melindrado", "ficar zangado" (ofender-se, melindrar-se, zangar-se) com algo que é dito ou feito.
às vezes o "levar a mal" é fruto de um mal-entendido, pois a reação nem sempre está de acordo com a intenção do dito ou feito que a provocou. e como somos todos uns vidrinhos de cheiro, mais suscetíveis do que empáticos, usamos muito mais vezes a expressão "levar a mal" do que "levar a bem".

sexta-feira, setembro 26, 2008

rebuldeiro (Gz.)


"rebuldeiro" (adj.) significa "traquinas", "travesso", "brincalhão", "divertido", "joguetom" (Gz.), "retouçom" (Gz.), "diabrete".
usa-se para gente miúda, para animais de companhia, reais (exº. o cão) ou de estórias infantis (cão, gato, urso), e tamém para diabos, trasnos, dianhos e belzebus.

entender (Pt., Gz. e Br.)

"entender" (verb.) significa "compreender", "perceber", "interpretar", "inteligir", "abranger"; "crer", "pensar", "julgar"; "ter ideias claras sobre qualquer coisa ou assunto"; "ser perito ou conhecedor de alguma matéria"; "conhecer alguém em profundidade"; "comunicar ou dialogar com alguém para além do superficial".

"entender" (subst.) significa "parecer", "opinião".


no meu entender, entender alguém pode não ser mais que um conjunto de mal-entendidos que fazem um novo sentido em comum. o que interessa de verdade é a cumplicidade que se cria. há muitos anos alguém me disse: "pouco importa o que estás a dizer, adoro a forma como o dizes". em suma: não interessa a letra, o que mais conta é a música.

quinta-feira, setembro 25, 2008

corrupio (Pt. e Br.); corrúpio (Gz. e Br.)

"corrupio" (subst.) é o mesmo que "roda-viva", "atividade frenética"; "stresse" (fig.); "volta", "vira-volta"; "afã", "azáfama"; "dança" (fig.); brincadeira em que se formam pares que, de mãos dadas e com os braços esticados, jogam o corpo para trás, rodando em conjunto o mais rápido que podem (Pt. e Br.); brinquedo formado por uma haste de pau, onde se fixam hélices de papel ou de penas que giram com o vento;


"corrúpio" (Gz.): brinquedo formado por uma peça de barro com dois buracos pelos quais entram dois fios que puxados a põem em movimento (Gz.).
"corrúpio" (adj.): "cruel", "perverso"; "ferrenho", "feroz", "empedernido" (Gz. e Br.).


e aqui vai um extrato de um textinho de Rubem Alves, psicanalista-escritor, sobre corrupios:

abri o meu baú de brinquedos. piões, corrupios, bilboquês, iô-iôs e uma infinidade de outros brinquedos que não têm nome. seria indigno que eu levasse piões e não soubesse rodá-los. peguei um pião e uma fieira e fui praticar. estava rodando o pião no meu jardim quando um cliente chegou. olhou-me espantado. ele não imaginava que psicanalistas rodassem piões. psicanalista é pessoa séria, ser do dever. pião é coisa de criança, ser do prazer. acho que meus colegas psicanalistas concordariam com meu paciente. a teoria diz que um cliente nada deve saber da vida do psicanalista. o psicanalista deve ser apenas um espaço vazio, tela onde o paciente projeta suas identificações. mas a minha vocação é a heresia. ando na direção contrária. "você sabe rodar piões?", eu perguntei. ele não sabia. acho que ficou com inveja. a sessão de terapia foi sobre isso. e ele me disse que um dos seus maiores problemas era o medo do ridículo. crianças são ridículas. adultos não são ridículos. aí conversamos sobre uma coisa sobre a qual eu nunca havia pensado: que, talvez, uma das funções da terapia seja fazer com que as pessoas não tenham medo das coisas que os "outros" definem como ridículo. quem não tem medo do ridículo está livre do olhar dos outros.

(in: Correio Popular, de Campinas, SP, Br.).

terça-feira, setembro 23, 2008

columpio (Gz.)

"columpio" (subst.), do cast., significa "balancé", "baloiço", "cadeira de baloiço",
"carrocel de baloiços giratórios", "randeeira", "arrandeeira", "bambam" (Gz.) - ver Comentºs de Calidonia e LQB.


não resisto a resumir o conto Novo de Parmuide, de Álvaro Cunqueiro, em Xente de Aquí e de Acolá.




Novo, um rapaz de Parmuide, apaixonara-se polos columpios nas festas de Mondonhedo e de Lugo. tanto, que feira ou arraial a que ele fosse tinha que lá gastar o dinheiro a columpiar-se. já home completo, Novo mandou vir um columpio individual, de cadeado, com assento forrado a pano verde, de onde caíam uns guizos. e montou-o na eira. sempre que podia, fazia a sesta no columpio e se queria provar amizade a alguém convidava-o a columpiar-se nele.
na tropa, um camarada que curava cavalos ensinara-lhe um montóm de receitas coas que apanhou o jeito e o vício de curar. e mais tarde, nom se sabe quando, Novo haveria de ajuntar o seu columpio ao já composto arsenal terapêutico. a princípio curava só catarros, com umas quantas doses de columpio, mas depois começou a aventurar-se às dores de cabeça, ao raquitismo e à anemia, com o que foi fazendo o carreiro das formigas de uma vasta clientela.
farto de ouvir falar em linguagem científica a outros que curavam menos que ele, Novo tratou de aprender uns versos e uns latins para recitar aos clientes enquanto os columpiava. dizia ele que um soneto bem botado aumenta a confiança dos enfermos. depois que aprendeu de cor uns versos e ladainhas, o mencinheiro já ajudava as mulheres prenhas a livrar-se em noites de lua cheia. e até conseguiu que uma freira paralítica saísse do columpio polo pezinho dela.
temendo que lhe decorassem a reza e co isso lhe roubassem o poder, Novo passou a dizer os versos ao revés. palavras de ocultis.
mas quando Novo morreu, o poder do columpio finou-se tamém. já nem os ratos lhe tenhem respeito.

vadio (Pt., Gz. e Br.)

"vadio" (adj.; subst.) significa "vagabundo", "gandulo"; "errático" (exº: "Conversas Vadias", um antigo programa de TV de Agostinho da Silva); "fugidio"; "desocupado", "malandro", "ocioso", "preguiçoso"; "marginal".


cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
e reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
não sou parvo nem romancista russo aplicado,
e romantismo, sim, mas devagar...).

sinto uma simpatia por essa gente toda,
sobretudo quando não merece simpatia.
sim, eu sou também vadio e pedinte,
e sou-o também por minha culpa.
ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
é estar ao lado da escala social,
é não ser adaptável às normas da vida,
às normas reais ou sentimentais da vida.
não ser juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
não ser pobre a valer, operário explorado,
não ser doente de uma doença incurável,
não ser sedento de justiça, ou capitão de cavalaria,
não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
e se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.
não: tudo menos ter razão!
tudo menos importar-se com a humanidade!
tudo menos ceder ao humanitarismo!
de que serve uma sensação se há uma razão exterior a ela?
sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
é ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
é ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
tudo o mais é ter fome ou não ter que vestir.
e, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
e estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
coitado do Álvaro de Campos!
tão isolado na vida! tão deprimido nas sensações!
coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
e, sim, coitado dele!
mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
que são pedintes e pedem,
porque a alma humana é um abismo.
eu é que sei. coitado dele!
que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
mas até nem parvo sou!
nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
já disse: sou lúcido.
nada de estéticas com coração: sou lúcido.
merda! sou lúcido.

(Poesia de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa)

domingo, setembro 21, 2008

palitroque (Gz.)

"palitroque" (subst.) significa "pequeno pau mal amanhado"; "pequeno pau para bater com ele"; "golpe dado com palitroque"; "baqueta de tambor"; "paus que batendo uns nos outros marcam o compasso da música"; "bandarilha".

(fontes: Dicionário Estraviz; Diccionario Gallego-Castelán, de L. Carré Alvarellos; Diccionario Anacomas).

mojena (Gz.)

"mojena" (subst. fem.) significa "chisca", "chispa", "faísca", "faúlha", "labareda"; "centelha", "mujica" ou "muxica" (ver Comentºs de Maria Balteira).

graf. altern.: "moxena"

averno

"Averno" é um lago situado perto de Cumas (It.) na cratera de um vulcão extinto. o nome vem do grego aornon: "[lugar] sem aves". de suas águas exala um cheiro que espanta a vida, pelo que foi, desde tempos antigos, associado a uma das entradas do inferno. para os Romanos, Averno estava consagrado a Plutão, o deus dos infernos.

na Literatura, é tomado por sinónimo de Inferno.



a Morte, vestida em branco, eis minha próxima amante.
minha sede pelo que é vermelho, crescente como a lua, como a palidez
e o branco, o infinito tom cadavérico de tua pele.

incógnito e inatingível é o meu ritual!!!

o obscuro somente me encanta, a noite é minha única companheira,
minhas três noivas: os astros, a solidão e a melancolia.
não me tenhas como Narciso, pois minha imagem é a de Pan...
feiúra exalta-me !!! a beleza? está em mim !!!

eu uivo para ti porque sou teu cão que chora e pranta pela dor de quem, aos
poucos, definha... sou vampiro que procura por líquido menstrual
e que jorra o sacro-semen por ti, oh meretriz dos céus!

afaste-se de mim ou venha a mim, para comigo dividir toda esta misteriosa,
densa e negra floresta interior - para nos perdemos entre os abismos...
o mundo é um mar de rosas ou de trovões ?!? os ventos sopraram
e fizeram tu escapar em pleno e puro Nirvana.

(Canção em Lua Negra de Averno, da banda Malkuth - Br.)

....................
imagem: http://www.lagoaverno.it/

sábado, setembro 20, 2008

e agora a Queimada

apesar do seu aspeto arcaico, a Queimada é uma tradição recente. e mesmo os seus ingredientes, tais como a augardente e o açúcar, não podem ser anteriores aos primórdios da Baixa Idade Média, pela simples razão de que ainda não existiam por cá.
mas, nos seus elementos fundamentais, tem reminiscências célticas, co seu lume, o pote, a escuridão, o álcool e os conjuros e esconjuros, cousa que, vindo do fundo dos tempos, remexe no íntimo da i-alma e da cultura do Noroeste, fazendo o êxito da Queimada.
espécie de teatro folclórico, a Queimada tem lugar à noite, depois da ceia, em plena escuridão, onde ressaltam a colher de augardente botando chispas de lume e as lengalengas de conjuros e esconjuros que, pola sua toada irracional, resultam numa linguagem que atinge diretamente o coração dos presentes.
a última vez que me recordo de participar numa Queimada foi em Vilar de Perdizes, Montalegre, no rematar dos trabalhos de um Congresso de Medicina Popular.
não tendo sequer cinquenta anos, os conjuros da Queimada são muitos, destacando-se os seguintes (em grafia reintegrada):


CONJURO DA QUEIMADA (Mariano Marcos de Abalo, 1967)

mouchos, corujas, sapos e bruxas, demos, trasgos e dianhos,
espíritos das nevoadas veigas,
corvos,
píntigas e meigas, feitiço das mencinheiras.
podres canhotas furadas, fogar dos vermes e
alimanhas,
lume das santas companhas,
mal de olho, negros meigalhos, cheiro dos mortos, tronos e raios.
ouveio do cam, pregom da morte, focinho do sátiro e pé de coelho,
pecadora língua da má mulher casada cum home velho.
averno de satám e belzebu, lume dos cadáveres ardentes,
corpos mutilados dos indecentes,
peidos dos infernais cus.
mugido da mar embravecida, barriga inútil da mulher solteira,
falar das gatas que andam à janeira,
guedelha porca da mulher mal parida.
com este fole levantarei as chamas deste lume que assemelha ó do inferno,
e fugirám as bruxas a cavalo nas suas vassouras,
indo-se banhar na praia das areias gordas.
ouvi, ouvi! os rugidos que dam
as que nom podem deixar de se queimar no aguardente,
ficando, assim, purificadas.
e quando esta beberagem baixe polas nossas gorjas
ficaremos livres dos males da nossa i-alma e de todo embruxamento.
forças do ar, terra, mar e lume, a vós fago esta chamada!
se é verdade que tendes mais poder que a humana gente,
aqui e agora fazei que os espíritos dos amigos que estám fora
participem com nós desta queimada.


CONJURO (Xosé María Pérez Paralhé, 1909-1987)

lume, luminha que verde caminha, da fraga à lareira fai-se lumeira
lume da quentura pra nossa fartura
lume abençoada que roda a queimada
pingota de orvalho, auga do agoiro
cerqueira de lume sem trasno nem fumo
nem bruxa chuchona, nem meiga ventona
rolar moinheiro, chiscar faisqueiro
mojena lumiosa, vagalume roxa
viradeira de luz, faremos a cruz
polo ar da sorte, que escorrenta a morte
pola auga da vida que sara a ferida
pola erva moura que o que abusca atesoura
pola pedra do raio que mata o meigalho
lume, lume, lume
lume lumeada para
alouminhar
a queima queimada
da vida virada do borburelhar
polo Sam Silvestre, cam e
palitroque
polo San Andrés ou polo Santiago
num reviravés queimada che fago
e queimada é


por curiosidade, querendo tentar:

QUEIMADA PARA 6:

- uma noite escura, vendo-se a lua
- 6 amigos e amigas
- uma panela de barro
- uma colher de pau comprida
- 6 malguinhas de barro
- uma fogueira ou lume
- litro e meio de aguardente de 45º
- meio quilo de açúcar
- raspas de um limão; pedacinhos de maçã ou bagos de uva, a gosto
- um quarto de litro de café do bom

companha

"companha" (subst. fem.) significa "companhia", "agremiação", "confraria"; "séquito", "comitiva"; "a tripulação de um navio".
"santa companha" (Gz.): procissão noturna das almas

esconjuro

"esconjuro" (subst.) é uma imprecação mágica ou exorcismo destinada a afastar e amaldiçoar algo ou alguém, vivo, morto ou espírito.

conjuro

"conjuro" (subst.) é o inverso de "esconjuro": é uma "invocação ou convocatória mágica destinada a conjurar ou reunir espíritos ou forças".

sexta-feira, setembro 19, 2008

alimanha (Gz.), alimaria (Pt. e Gz.)

do lat. animalia, "alimanha" ou "alimária", e também "alimália" e "alimalha", é qualquer animal irracional, sobretudo se é tido por desprezível ou prejudicial ou se se lhe reconhece poderes ou ligações sobrenaturais. exºs: a coruja, a salamandra (pinta, píntega, píntiga), a toupeira, o coelho, o corvo, o gato preto, o mocho ou moucho, o morcego, o rato, o sapo.

mencinheiro (Gz.)

"mencinheiro" (adjet.) é "aquele que pratica "mencinha" (de medicina) ou medicina popular, "aquele que prescreve ou administra mezinhas" (de medicina), "curandeiro"; "feiticeiro".

ouveio (Gz.), uivo (Pt., Gz. e Br.)

"ouveio" ou "uivo" (subst.) é o grito lúgubre e prolongado de alguns animais, como os cães e os lobos. fig.: o som produzido por alguns ventos e tempestades.
verbos derivados: "oular" (Gz.), "oulear" (Gz.), "ouvear", "ouviar" (Pt., Gz. e Br.)
adjetivos: "ululante", "uivante".

latim (onomatop.): ululu, ululare

quinta-feira, setembro 18, 2008

meigalho (Gz.)

"meigalho" (subst.) é a ação ou efeito causado polos meigos, ou feiticeiros, homes ou mulheres. é o mesmo que "encantamento", "feitiço", "influência, boa ou má", "malefício".
assim, é um meigalho qualquer maleita física ou psíquica provocada por vizinhos ou familiares malquerentes ou assim supostos, por inimigos, ou por diabos e outros espíritos malignos, que se metem dentro das pessoas para lhes perturbar a existência e a paz de espírito. são também meigalhos a histeria, a fraqueza inexplicável e uma série de padecimentos vagos do foro psiquiátrico.
dos meigalhos bons não se queixam as pessoas. que as vejo caminhando pola vida à cata deles.

o mago

certo dia tirei-me de cuidados e fui visitar a casa-museu de um mencinheiro ali polas bandas de Lugo. o home acolheu-nos de boa mente e logo começou o foguetório das suas artes. que tinha 300 anos de vida, que era capaz de voar, que tinha uma capa vermelha, enfim. enquanto ele exibia as suas gabanças, acompanhadas de vasta coleção de fotos e artigos de jornais, eu passava os olhos pelo estendal de ervas, patas de rãs, insetos e bichos repelentes, mezinhas, poções, pós, potes e almofarizes, receitas e esconjuros, livros da melhor gente da cultura e das artes: um museu.
e eu ia bebendo na fonte o que a bica botava.

vendo-me interessado e curioso, o home mandou-me uma estocada e quase me joga no tapete:
- sabes de onde vem o meu poder?
fiquei sem resposta, ante tantas hipóteses que me passavam pola mente. pelo que, após um interlúdio bem estudado, o home respondeu à própria pergunta rapando do boné que trazia na cabeça e pondo-me a testa dele na frente dos meus olhos:

- daqui!
e mostra um par de corninhos, um de cada lado da testa, quase simétricos, que trazia recatados no seu boné.

a Bíblia passou-se-me de repente pelos olhos de dentro: tamém a Moisés o pintam com uns cornos assim!

aí, passei ao contra-ataque:

- home, cando eu entrei ali pola porta vi cousas de deus ao lado direito e cousas do diabo na montra da esquerda...

- ...e sabes porquê? - perguntou triunfante.
- ora, respondi eu, a porta da tua casa é como entrar dentro da gente. deus e o diabo fazem parte da nossa natureza por igual!

a reação do home foi de incredulidade. olhou pra mim de cima abaixo e perguntou:
- tu que fazes? és vidente? filósofo?
- gosto de entender as pessoas, só isso.

quem ia comigo já não aturava mais a conversa e deu coa língua nos dentes:
- ele é psiquiatra!

fiz um esgar de zangado, mas o mal estava feito.

a conversa mudou de figura. o impressionante feiticeiro entrou em confissão. contou como tudo começara, ainda jovem. cousas difíceis de entender se tinham passado co ele. chegavam-lhe de outros mundos vozes e influências. andara polos médicos, sem que lhe dessem solução às dúvidas, incertezas, enigmas e temores. começou a frequentar congressos de medicina, de literatura e de cultura e arte, procurando respostas. tornou-se amigo de figuras de renome e influência.
a fama dos seus contactos com experiências além do real fez que o procurassem cada vez mais e de mais longe. a resposta encontrou-a ajudando os outros.

hoje é ele mesmo um ícone da cultura nacional galega e um museu na sua terra.


escarafunchar (Pt., Gz. e Br.)

"escarafunchar" (verb.) significa "remexer", "revolver", "esquadrinhar", "investigar", espiolhar", "aprofundar", "sondar", "esgaravatar" ou "esgravatar".

terça-feira, setembro 16, 2008

não paga a pena

a expressão "não paga a pena" ouve-se no norte de Portugal, no Brasil e na Galiza. é o mesmo que "não vale a pena", "não merece a pena". significa "não compensa", "não vale o esforço".

"não paga a pena plantar. a formiga come tudo" - Jeca Tatuzinho, de Monteiro Lobato

"às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido".
(Fernando Pessoa)

outear (Gz.)

"outear" (verb.) significa "observar a partir de um ponto alto". "andar de um lugar para o outro".
da mesma raiz latina que deu altus (alto) e altarium (altar, outeiro).

segunda-feira, setembro 15, 2008

madrasta (Pt., Gz. e Br.)

"madrasta" (subst. fem.) é a mulher casada com o pai que não é a mãe. é a estranha caprichosa e má que gere um mundo "real", desprovido de afeto, carinho e proteção. nos contos de fadas, a madrasta personifica os obstáculos e adversidades com que a criança se depara ao longo do seu crescimento e afirmação pessoal. a "madrasta" é superada pela chegada do príncipe encantado. como diz a minha filha de 4 anos, "o príncipe vem sempre no fim da história".
como adjetivo, "madrasta" significa "dura", "difícil", "ingrata". exº: "a vida tem-lhe sido madrasta".
fig.: mãe pouco afetuosa.
variantes (Gz.): "madrasca", "madrasga".

sábado, setembro 13, 2008

bruxa (Pt., Gz. e Br.)

"bruxa" (subst.) deriva etimologicamente da mesma raiz de "bruxulear", "brûler" (Fr.) e "brusciare" (It.), estando, portanto, ligada à ideia de "arder", "queimar", "grelhar", "assar", "tostar", "torrar". não porque elas, as bruxas, queimassem as pessoas, mas porque as queimavam a elas em espetáculo público. "bruxa" é, pois, "a que ardeu", "a queimada".
a esse destino as condenou a Inquisição, trazida para a Península Ibérica por Fernando II de Aragão. o objetivo foi o de erradicar o sentimento e o pensamento pagão tradicionais, reduzindo tudo e todos a um só pensar e a um só sentir. no mesmo fogo arderam judeus e outras dissidências mais cultas e letradas, que deixaram relato de seu. mas as bruxas, que não sabiam ler nem escrever, não puderam deixar o relato heróico de suas provações e calvários.
às "bruxas" pintam-nas velhas e muito feias, magras, de queixo arrebitado e nariz adunco, montando uma vassoura voadora. não há pior metáfora do que passou a ser velho e caduco: a ordem tradicional, o matriarcado, as crenças populares, a medicina artesanal, a psicologia intuitiva, o transe terapêutico. os poderes de certas mulheres foram atribuídos a um pacto pessoal com o diabo, pelo que o seu destino só podia ser o fogo, à vista de todos. e a passagem de "bruxa" a adjetivo, com o significado de "velha feia, horrorosa e malfazeja".
mas, apesar do holocausto, a cultura popular sobreviveu até bem perto dos nossos dias. moribunda, já não inspira medo nem cuidado. já é possível organizar congressos, encontros e jornadas de feitiçaria, cultura e medicina populares, muito frequentados pela fina-flor da nossa cultura urbana.
é que, como diz o outro, yo no creo en brujas, pero que las hay, hay.

nota: sobre o tópico ver "meiga".

oxalá (Pt., Gz. e Br.)

"oxalá" (interj.) é outra aportação árabe, neste caso tamém islâmica. muito próxima da expressão original in sha Allah: "praza a Deus", "seja do agrado de Deus", "Deus queira", "queira Deus", "prouvera a Deus". na Galiza coexiste a variante "ogalhá". graf. altern.: "ogallá"

exprime desejo de que algo pretendido aconteça. ver "quem dera!"

salamaleque

"salamaleque" (subst.) reproduz quase fielmente a expressão árabe "as salam alaik": "a paz esteja contigo". na língua do quotidiano significa "maneirismo", "cumprimento afetado", "mesura exagerada", "saudação interesseira".
é a saudação de cortesia entre os turcos.

sexta-feira, setembro 12, 2008

fazer-se de novas

a expressão "fazer-se de novas" significa "fazer-se de conta que não se sabe", "mostrar-se curioso de novidades (novas) que já se conhece ou de que se é protagonista", "fazer de conta que se está saber de algo pela primeira vez", com a finalidade de sondar as opiniões correntes a respeito.
o significado sobrepõe-se, pelo menos em parte, à expressão "tirar nabos da púcara".

sumidoiro

"sumidoiro" (subst.) significa "esgoto", "buraco, lugar ou processo por onde se escoa ou consome a água, os detritos, o dinheiro ou outra coisa qualquer". o mesmo que "sumideiro" e "sumidouro"

na Galiza usa-se "sumidoiro" como sinónimo preferencial de "esgoto". exº: "a rede municipal de sumidoiros". mas tamém nos restantes sentidos da palavra.

quinta-feira, setembro 11, 2008

falangueiro (Gz.)

"falangueiro" (adj.) significa "aquele que tem um falar agradável", "afável", "bem falante", "de boas falas", "falinhas mansas" (no sentido adjetivo), "lisonjeiro".

fazer orelhas moucas

a expressão "fazer orelhas moucas" significa "fazer de conta que não se ouviu", "não dar importância ao que se ouve", "fazer-se de surdo".

do ponto de vista semântico, sobrepõe-se, pelo menos em parte, à expressão "fazer ouvidos de mercador".


tamém se diz: "a palavras loucas orelhas moucas", para significar que há coisas a que não se pode dar importância. o mesmo é dizer: "palabras tolas, orelhas xordas" (Gz.).

muito atual é o refrão "a falangueiros ditos, tapa os ouvidos" (Gz.), pois adverte para não nos deixarmos influenciar pelas falinhas mansas e boas falas.

sumir (Pt., Gz. e Br.)

"sumir" (verb.) significa "desaparecer", "fazer desaparecer", "ocultar"; "perder", "gastar", "consumir"; "afundar", "apagar(-se)"; "extinguir(-se)", "esvair(-se)".

derivados: "sumiço" (subst.) - desaparecimento; "levar sumiço" - desaparecer; "dar sumiço" - fazer desaparecer.
ver Comentº de "o".


com esta postagem iguala-se o número de entradas de Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira, primeira das loucuras por onde me fiz viajante. a ideia comum é a de um serviço à comunidade da língua, pôr em contacto três povos com os mesmos adns, tantas vezes fáceis de dividir por sotaques, ortografias e microrregionalismos, mas, acima de tudo e apenas, pela falta de encontros e de reuniões periódicas e assíduas, onde se relembre, festeje, aprofunde e desfrute o património comum.

a internet, com a sua interatividade, é o lugar perfeito para o re-encontro.

quarta-feira, setembro 10, 2008

trinchar

"trinchar" (verb.) significa "cortar a carne em fatias", "cortar a carne com modos de quem sabe". com faca e garfo trinchantes.

prato

"prato" (subst.) é a peça de loiça redonda, larga e achatada, com um rebordo estreito em redor, que serve para conter a comida de cada um. há os pratos de sopa, os pratos ladeiros e os pratos de sobremesa.
tamém se chama prato à variedade culinária que vai ser servida ou que pode ser escolhida de um cardápio ou menu.
e, ainda, há quem chame "prato" às antenas parabólicas.

garfo

"garfo" (subst. fem.) é a peça de talher ou baixela que serve para levar à boca os alimentos sólidos.

colher, culher (Gz.)

"colher" ou "culher" (subst. femin.) é a peça de talher ou baixela que serve para levar à boca a sopa, o caldo e outros alimentos líquidos ou pastosos ou difíceis de agarrar com o garfo. há colheres para todos os tamanhos e funções: colheres de sopa, de sobremesa, de chá, de café.

a colher está presente em expressões como:

"entre marido e mulher não metas a colher" - significa que é errado, contraproducente e até perigoso tentar gerir racionalmente aquilo que, por natureza, é irracional e ambivalente.

"da colher à boca se perde a sopa" - significa que não se pode contar co ovo no cu da galinha, que uma coisa é prever e outra acontecer.

faca

"faca" (subst. femin.) é a peça de talher ou baixela que serve para cortar os alimentos.

tigela

"tigela" (subst. fem.) significa "malga", vaso de louça para servir a sopa ou o caldo.
graf. altern. (Gz.): "tixela"

"de meia tigela": sem valor, medíocre.

tijola (Gz.)

"tijola" (subst. fem.) significa "sertã", "frigideira", tacho de ferro para fritar.
na Galiza tamém se usa "tigela" com o mesmo significado.
graf. altern.: "tixola"

terça-feira, setembro 09, 2008

levar o carro à frente dos bois

expressão típica de um mundo rural desaparecido, significa "começar pelo fim", "inverter a ordem normal das coisas", "querer atingir um objetivo sem cumprir os passos necessários". a expressão sobrevive porque os carros e os bois já não carregam, mas os homes não mudaram.

entrar por um ouvido e sair por outro

a expressão "entrar por um ouvido e sair por outro" significa que quem ouve não retém o que ouve, não dá importância ao que é dito, que, para quem ouviu, ter falado quem falou ou ter ficado calado é igual.
ver Comentº de Calidonia.

fazer ver

"fazer ver" é uma expressão muito portuguesa, que denota uma preocupação mórbida com as aparências e vernizes. de certo modo, subentende que o que parece é. significa "exibir, evidenciar, mostrar uma condição ou estatuto". "o João faz ver, com aquele carro novo..." "eles tenhem uma casa que faz ver..."
mas, as mais das vezes, "fazer ver" sai demasiado caro. tenhem tudo por fora, mas passam fome por dentro.

segunda-feira, setembro 08, 2008

agochar (Pt. e Gz.)

"agochar" (verb.) coexiste com e é o mesmo que "agachar". significa tamém "esconder", "ocultar", "encobrir", "dissimular", "calar o que se gostaria de dizer", "dizer, encobrindo, o que se quer dizer claramente". ouvi recentemente uma senhora de Pombeiro da Beira, Arganil, usar o verbo e o adjetivo no diminutivo ("agochadinho").

sábado, setembro 06, 2008

mulherio

"mulherio" (subst.) significa "as mulheres", "o género feminino", "grupo, reunião ou conjunto de mulheres". "aquilo que carateriza as mulheres", "o conjunto de clichés e ideias feitas com que os homes definem a psicologia das mulheres".

mulherengo

"mulherengo" (adj.) é "aquele que anda com mulheres", "aquele que só está bem na companhia de mulheres". tamém: "afeminado", "maricas", "moceiro" (Gz.), "mulhereiro" (Gz.).
personagens célebres, reais ou literárias, como Dom João, Casanova, Rudolfo Valentino, Carlos Gardel não tinham o perfil de predadores, embora se fizessem acompanhar de dúzias ou centos de mulheres.
é que, em boa verdade, o predador não acompanha nem se faz acompanhar das suas presas: caça-as. e as presas, por sua vez, fazem questão de ser caçadas personalizadamente, uma a uma e uma de cada vez. como se fosse primeira e última. única. isto é, como se, não sendo, fosse.

graf. altern. (Gz.): "mullerengo", "mullereiro".


tamém se diz do home casado que anda com outras mulheres

sexta-feira, setembro 05, 2008

capoeira

"capoeira" (subst.) é o mesmo que "galinheiro", casoto ou coberto onde se criam e recolhem as galinhas. de "capão" ou "capóm", galo castrado e engordado. é, pois, um lugar onde só podem conviver galinhas, capões e um único galo competente.
no Brasil, "capoeira" é tamém uma forma incomparável de dança acrobática e arte marcial desenvolvida pelos escravos negros. de notar que os escravos que chegavam no Brasil eram chamados de "galinhas", tendo esta designação deixado marcas na toponímia (Rio de Galinhas). no séc. XVII, as invasões holandesas desorganizaram a sociedade do litoral, dando azo a que muitos escravos fugissem para o interior. a eles se deu o nome de "negros capoeiras" ou "capoeiras". terá sido um desordeiro, um tal tenente João Moreira, o criador desta forma de luta, a qual passou aos capoeiras, que a aperfeiçoaram e desenvolveram.

barbeiro

"barbeiro" (subst.) é "o que faz, corta ou apara a barba" - ofício em confrangedora decadência, derrotado pelas giletes, pelas máquinas de barbear e pelos hairdressers dos centros comerciais.
tamém: "o [vento] frio que entra pela barba".

cieiro ou sieiro

"cieiro" ou "sieiro" (subst.) significa "frio seco", "rachas, gretas, pequenas feridas (provocadas pelo frio gelado, nos lábios e nas mãos)". tamém se pode dizer do terreno gretado por ação do calor.
a terminação -eiro indicia um adjetivo substantivado pelo uso: de "gelo", "geleiro", "geeiro", "gieiro"ou "xieiro".
está semanticamente relacionado com a expressão "está um frio de rachar".

quinta-feira, setembro 04, 2008

sair a

aqui a expressão "sair a" significa "ser parecido com". no sentido de "parecido física ou mentalmente".
exº: "sai ao pai", "sai à mãe".
até se diz que "quem sai aos seus não degenera". e verdade será.
esta expressão não anda longe de outra: "de tal gente tal semente" (Pt. e Gz.).
quando a parecença é física, pode dizer-se: "é a cara chapada de..." ver Comentº de "o"

senlheiro (Gz.)

"senlheiro" (adj.) significa "solitário", "sozinho", "isolado", "na absoluta companhia de si mesmo".
pressupõe uma etimologia em singularium (lat.).
ver Comentº de "o" * à postagem "quem dera!"
tamém: "único", "sem igual", "incomparável" (ver Comentº de Fer)
graf. altern: senlleiro

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* na verdade, o excelente blogue "o que ouço por aí ".

terça-feira, setembro 02, 2008

levar e trazer

a expressão traduz a atividade frenética dos que levam umas novidades e trazem outras.
significa "cuscuvilhar", "bisbilhotar", "espiar".
há por aí muitos serviços de levar-e-trazer, mas este acaba por ser o mais divertido.
pode causar alguns estragos, mas é completamente grátis.

dar à língua

a expressão "dar à língua" usa-se para significar "falar muito", "falar demais" (Br.), "revelar um segredo", "fazer uma inconfidência", "desabafar", "cavaquear", "falar da vida alheia" (as mulheres).
certo é que "dar à língua" faz espairecer e é uma atividade eminentemente saudável. e que, como dizia o povo:

"as mulheres cando se juntam
a falar da vida alheia
começam na lua nova
e acabam na lua cheia"

hoje as mulheres já não "dão à língua" como antigamente. estão mais parecidas cos homes. talvez por isso, enchem os consultórios de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e afins, "dando à língua" sentadas na cadeira ou deitadas no divã, pagando pra isso.
outras, mais inteligentes, criativas e femininas, "dão à língua" nos melhores blogues da internete. e não cobram nada.

segunda-feira, setembro 01, 2008

quem dera!

dei comigo a usar esta expressão.
significa "oxalá!", "assim fosse...", "tomara!", "antes fosse...", "Deus quisesse..."
está por "quem me dera", ou seja, "haja alguém que me dê o que eu preciso".

retranca (1)

"retranca" (subst. fem.) significa "defesa", "reserva", "cuidado", "rodeio", "astúcia".
"estar na retranca": estar à defesa, mostrar reserva ou prudência.

ver "retranca" (2) - postagem de 17 de julho de 2009.

falar pelos cotovelos

a expressão "falar pelos cotovelos" significa "falar muito", "falar incessantemente", "falar demais" (Br.).
quem fala pelos cotovelos nem sempre fala acertadamente.
a origem da expressão talvez resida no costume da gente que fala muito gostar também de dar cotoveladas à medida que vai falando, como forma de reforçar o discurso, chamar a atenção, tornar impossível que não oiçam o que diz.

dor de cotovelo

a expressão "dor de cotovelo" significa "despeito", "ciúme", "inveja", "frustração", "estado de espírito de quem foi traído". o mesmo que "dor de corno".
a expressão é de origem difícil de determinar e explicar. há quem diga que deriva da posição de acabrunhamento e desânimo em que a pessoa atingida se coloca, com um dos cotovelos sobre a mesa e a cabeça inclinada, apoiada na mão do mesmo braço. muitas vezes com um copo de vinho, de uísque ou de cerveja na frente.
dor de cotovelo não tem idade, género, estado civil, beleza ou estatuto social.
e dizem que a pior dor de cotovelo é a primeira. porque daí prá frente se vai ficando vacinado...
...quem dera!